segunda-feira, 26 de abril de 2021

Imitação do Evangelho - A gênese

CEV- 26-04-21

ESE – IMITAÇÃO DO EVANGELHO – Anotações de Allan Kardec, publicadas originalmente no volume OBRAS PÓSTUMAS – Ségur, 9 de agosto de 1863 (médium: Sr. d’A.)[1]

Nota de Allan Kardec –  A ninguém comunicara eu o objetivo da obra em que vinha trabalhando; de tal modo guardar segredo sobre o título que lhe dera, que o próprio editor, Sr. Didier, dele só veio a saber quando a foi imprimir. Esse título foi, a princípio, Imitação do Evangelho. Mais tarde, em atendimento a observações do Sr. Didier e outras pessoas, mudei-o para o de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por isso, as relações contidas nas comunicações que se seguem não podem ser consideradas como fruto de ideias preconcebidas do médium.

Itens  1 – Objeto desta obra.[2]

As matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que serviriam para o estabelecimento dos dogmas da igreja; e o ensino moral. As quatro primeiras tem sido objeto de controvérsias, a última, contudo, permanece inatacável; diante desse código divino inclinam-se os próprios incrédulos; é esse um terreno onde todos os cultos se podem congregar, bandeira sob a qual todos podem se abrigar, quaisquer que sejam os seus credos porquanto ele nunca foi objeto das contendas religiosas que as questões dogmáticas suscitam sempre e em toda parte. Se porventura o discutissem, as seitas nele encontrariam sua própria condenação, dado que a maioria delas se tem apegado mais à parte mística que ao conteúdo moral, que exige a transformação de cada um. Para a criatura humana, é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida pública ou privada, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça; é, enfim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade futura, uma ponta do véu levantada sobre o porvir. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.

Todos admiram a moral evangélica; proclamam lhe a excelência e a necessidade; entretanto, a maioria o faz confiando no que viu, ou apoiada em algumas máximas que se tornaram proverbiais; poucos a conhecem a fundo; menos ainda compreendem e sabem tirar-lhes as consequências. A razão disso assenta em grande parte na dificuldade que apresenta a leitura do Evangelho, por ininteligível pelo maior número de pessoas. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces sem as compreender, isto é, infrutuosamente. Os preceitos de moral, disseminados aqui e além, confundidos no conjunto de outras narrativas, passam despercebidos, tornando-se então impossível destacá-los do seu todo para estudo e meditação em separado.

 

A GÊNESES – OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITÍSMO.[3]

A doutrina Espírita resulta do ensino coletivo e concordante dos Espíritos. A ciência é chamada para explicar a Gênese segundo as leis da Natureza – Deus prova a Sua grandeza e o Seu poder pela imutabilidade de Suas Leis e não pela derrogação delas – Para Deus, o passado e o futuro são o presente. Por Allan Kardec.

 

Primeira edição publicada em janeiro de 1868[4].

 

Esta obra é mais um passo dado ao terreno das consequências e das aplicações do Espiritismo. Conforme indica o seu título, ela tem por objeto o estudo de três pontos até hoje interpretados e comentados de modos divergentes: A Gênese, os milagres e as predições, em suas relações com as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos espíritas.

Dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o Universo; o elemento espiritual e o elemento material. Da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais, que são naturalmente inexplicáveis, se se faz abstração de um dos dois, da mesma forma que a formação da água seria impossível se fossem abstraídos um de seus dois elementos constitutivos: oxigênio e o hidrogênio.

Demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo, o Espiritismo fornece a chave para a explicação de uma imensidade de fenômenos incompreendidos e considerados, em virtude mesmo dessas circunstâncias, inadmissíveis por parte de uma certa classe de pensadores. Esses fatos são abundantes nas Escrituras e é pela falta de conhecimento das leis que os regem, que os comentadores dos dois campos opostos, movendo-se sem cessar no mesmo ciclo de ideias, uns fazendo abstração dos dados positivos da Ciência, os outros, do princípio espiritual, não puderam atingir uma solução racional.

Essa solução se encontra na ação recíproca do Espírito e da matéria. É exato que ela tira à maioria de tais fatos o caráter sobrenatural. Porém, que é o que vale mais: admiti-los como resultados das leis na Natureza, ou rejeitá-los completamente? A rejeição absoluta arrasta a da própria base do edifício, ao passo que a admissão a tal título, suprimindo somente os acessórios, deixa intacta essa base. Eis por que o Espiritismo atrai tantas pessoas à crença de verdades consideradas até então utópicas.[5]

Esta obra é, pois, como já o dissemos, o complemento das aplicações do Espiritismo de um ponto de vista especial. Os seus materiais estavam prontos, ou, pelo menos, elaborados desde muito tempo; mas não havia ainda chegado o momento de os publicar. Era preciso, antes de tudo, que as ideias que deviam constituir-lhe a base tivessem chegado à maturidade das circunstâncias. O Espiritismo não tem mistérios, nem teorias secretas, tudo nele é revelado claramente, para que todos possam julgá-los com conhecimento de causa, mas cada coisa deve vir a seu tempo, para vir com segurança. Uma solução dada ligeiramente antes da elucidação completa da questão, seria motivo antes de retardamento que de avanço. A importância do assunto que tratamos aqui, impunha-nos o dever de evitar precipitações.[6]



[1] O LIVRO DE ALLAN KARDEC – toda obra editada em um único volume – Opus Editora Ltda – SP – O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 319.

[2] Idem, item 1 - p. 320.

[3] O LIVRO DE ALLAN KARDEC – toda obra editada em um único volume – Opus Editora Ltda – SP – A Gênese, p. 878.

[4] Idem, p. 878.

[5] Idem, p; 878.

[6] Idem.

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